/ / Evolução do marketing: da Mesopotâmia a Philip Kotler

A evolução do marketing não começa nos últimos 100 anos. Para entender o que ele realmente é e para onde ele vai, precisamos voltar até os primórdios da humanidade. 

Onde existiram negócios, existiu publicidade e marketing. É claro que não como o conhecemos hoje: data-driven, com foco na performance e no retorno do investimento. Mas os negociantes tentam ampliar suas vendas com anúncios desde que o mundo é mundo. 

Hoje vamos fazer uma jornada pela maré dos tempos 🌊. Nosso objetivo é entender como se deu a evolução do marketing, onde ele começou, quem ajudou a construir o marketing contemporâneo e para onde ele vai. 

Vamos começar? 

Os primórdios do marketing e do merchandising

Quando a primeira pessoa decidiu vender seus excedentes da lavoura para outras, a semente do marketing começou a brotar. 

E desde então, como muita coisa mudou no mundo, muita coisa também mudou no marketing. 

Nós temos a sorte de ter registros das primeiras tentativas relacionadas a marketing no mundo, além das primeiras comunicações relacionadas ao varejo, disponíveis na palma das nossas mãos. 

Podemos ver a evolução do marketing sentados na primeira fila. 

Esse tópico vai mostrar desde os primeiros registros acadianos sobre varejo que temos notícia, indo até o início da grande era dos comerciais de TV, pré-internet. 

Bora lá? 

O marketing na antiguidade

O historiador Eric H. Shaw destaca que as primeiras práticas que podem ser consideradas como marketing começaram com a criação e o comércio rudimentar de esculturas, uns bons 40.000 anos atrás. 

Tudo claro, sem registro: só encontramos as próprias esculturas e inferimos sobre o seu comércio.

Mas o primeiro registro concreto de uma comunicação relacionada ao varejo vem da Mesopotâmia, mais especificamente na antiga cidade de Ur, em meados de 4.000 a.C.  

A comunicação é uma tabuleta de argila com escrita cuneiforme de um consumidor reclamando com seu vendedor sobre a qualidade do produto vendido. 

Tabuleta cuneiforme na Mesopotâmia.
Nanni (o comprador) reclama que Ea-nasir (o negociante) enviou minério de cobre da qualidade errada e exige seu dinheiro de volta. 

O exemplo mais antigo de merchandising que temos vem da Grécia antiga, entre 600 a.C. a 700 a.C. Vasos confeccionados por artesãos vinham com a sua assinatura como forma de destacar seu prestígio – e possivelmente aumentar seu preço.  

Um dos vasos da época, inclusive, vem com a inscrição “um dos prêmios de Atenas”, significando que ele era uma das premiações dos jogos Panatenaicos da cidade. 

Vasos gregos do período clássico.

Outro ótimo exemplo é o dos romanos. Com a erupção do monte Vesúvio, as cidades de Pompeia e Herculano foram cobertas por cinzas, o que preservou suas características. 

Escavações arqueológicas encontraram, nas paredes, o que historiadores acreditam ser os primeiros anúncios feitos em locais públicos. São os primeiros outdoors do mundo, datando de 79 a.C. 

Parede com anúncios publicitários nas ruínas de Pompeia.

Mas o primeiro anúncio de fato, criado para ser um anúncio em uma mídia dedicada, foi feito entre 960 d.C e 1260 d.C, na China da Dinastia Song. O comércio de agulhas da família Liu anunciava fazer “Agulhas de alta qualidade, prontas para o uso doméstico” em uma placa de bronze. 

Primeiro anúncio publicitário em mídia própria.

Foi daí que o marketing veio – do espírito do comércio, inerente ao ser humano. Mas até onde estamos hoje temos um longo caminho, que só foi ser estudado ainda no século XIX. 

E falando nisso: 

Os primeiros anúncios e as primeiras teorias

O marketing como conhecemos hoje teve suas origens com as revoluções industriais. Com o avanço do capitalismo baseado na economia da produção em massa, a evolução do marketing começou a acontecer de forma mais acelerada. 

Aproximadamente em 1455, Johannes Gutemberg inventou a prensa de tipos móveis, o que possibilitou a criação dos primeiros jornais periódicos ao longo do século XVI e XVII. 

A primeira publicação semanal do mundo surgiu em meados de 1620, na Grã-Bretanha, e o primeiro jornal diário iniciou suas publicações em 1702. Nessa época e ao longo do século XIX, os anúncios focavam principalmente na venda de livros e remédios.

No final do século XIX, as primeiras agências de publicidade começam a surgir nos E.U.A e na Grã-Bretanha. Na Filadélfia, Volney B. Palmer abriu a primeira agência de marketing americana. 

Mas as agências daquela época eram bem diferentes. Elas compravam todos os espaços disponíveis de jornais da região e os revendiam a um preço mais alto. Fazer o anúncio era responsabilidade das próprias marcas. 

Isso começou a mudar com a virada do século. A era da criatividade no marketing do século XX estava começando. 

Claude C. Hopkins e a Publicidade Científica

Claude C. Hopkins foi um dos pais da publicidade. Iniciando sua trajetória no final do século XIX e início do século XX, ele ajudou a consolidar marcas que estão em atuação até hoje – é o caso da Palmolive e da Goodyear, por exemplo. 

Hopkins foi um dos primeiros, senão o primeiro, a falar sobre o marketing como uma disciplina científica. 

Seus preceitos foram imortalizados no livro “A Ciência da Publicidade”, publicado em 1923. Nesse livro Hopkins determina o embrião que veio pautar a evolução do marketing: a necessidade de conhecer seu público-alvo. 

A ideia que o marketing precisa ser direcionado e apresentar características criativas dependendo do perfil de quem lê não era popular na época. E o marketing como conhecemos hoje – uma junção holística entre merchandising, publicidade e propaganda – não era praticado. 

Hopkins era tido como uma ovelha negra entre os anunciantes da época simplesmente por fazer promoções e oferecer amostras grátis. Para eles, isso não era publicidade. 

A era de ouro do marketing e do copywriting

A evolução do marketing teve sua era clássica entre os anos 40 e 70 do século passado. 

Entre esses anos, as maiores agências de marketing do mundo (até hoje!) foram criadas: Ogilvy & Mather (hoje Ogilvy), BBDO (que inclusive é a holding da brasileira Almap), DDB entre outras. 

Anúncio do Fusca dos anos 50.

Nesse período, grandes campanhas foram idealizadas e o foco dos anúncios — feitos principalmente em revistas e jornais — estava na criatividade, na informação e na adequação da mensagem ao público. 

As fundações construídas por Hopkins deram grandes frutos. David Ogilvy, um dos seus maiores admiradores, além de Ned Doyle e Bill Bernbach, pressionaram o mercado a entender o copywriting como uma forma de arte inspirada por pesquisas de mercado. 

As influências dessa era de ouro da publicidade são vistas até hoje. Seus principais preceitos ainda são aplicados, e seus principais nomes ainda são estudados. 

A evolução do marketing segundo Philip Kotler

Philip Kotler com expressão pensativa, ao lado da legenda "a evolução do marketing".

Philip Kotler nasceu em 1931, logo antes do início da era de ouro do marketing tradicional. 

Conforme foi trabalhando em agências e empresas ao longo do século XX, ele determinou a criação e a formalização do marketing management — a gestão do marketing. 

Esse princípio foi crucial na evolução do marketing. Através de Kotler, o marketing se uniu de vez com práticas de inteligência comercial

Foi essa união que inaugurou a formalização das teorias de marketing contemporâneas, e estabeleceu o estudo do marketing como uma ciência humana, pautada na administração.

Nos seus mais de 80 livros publicados, as duas principais contribuições de Kotler foram a criação do mix de marketing — os 4 Ps — e os conceitos de marketing 1.0, 2.0, 3.0, 4.0 e 5.0. 

Hoje, analisar a evolução do marketing passa por essas 5 categorias, que também descrevem muito bem a história. Vamos saber mais sobre cada uma delas?

Marketing 1.0

Segundo Kotler, o marketing 1.0 é a primeira fase do marketing moderno, que aconteceu no início do século XX. 

Nessa época o foco estava todo nos produtos. Com a segunda revolução industrial criando fábricas e mais fábricas, o marketing tinha como foco principal a entrega dos produtos da linha de produção para os consumidores. 

Com o número reduzido de fábricas e a demanda altíssima dos consumidores nas grandes cidades, esse trabalho raramente envolvia uma publicidade muito complexa. Foi nesse contexto que surgiram os 4 Ps – praça, produto, preço e promoção.  

As preocupações do Marketing 1.0 estavam relacionadas com a redução do custo de produção e distribuição.

Um ótimo exemplo é o marketing automobilístico. A revolução da época não foi a publicidade dos melhores modelos de carros, mas sim a produção em massa do Ford Model-T, que ganhou o mercado pela introdução da linha de montagem fordista. 

Marketing 2.0

Durante a metade do século XX até os anos 80, o marketing orientado para o consumidor era o pensamento dominante. 

Essa é a era que o texto menciona ali em cima, com a proeminência de grandes figuras como Claude C. Hopkins e David Ogilvy. O pensamento da época era simples: precisamos entender como o consumidor pensa. 

Nessa época, segundo Kotler, acontece o desenvolvimento do framework STP – segmentation, targeting, positioning, ou segmentação, direcionamento e posicionamento.

O que os consumidores sentem? Quem são eles? Onde eles estão? Por que compram? 

Tudo isso, antes do marketing 2.0, era guiado por instinto, muitas vezes dos próprios fabricantes — os donos das indústrias e até os engenheiros que faziam o design do produto. 

Com o surgimento das grandes agências, muitas inclusive que dominam o mercado global até hoje, a criação das campanhas passa a ser mais centrada nas necessidades dos consumidores, que agora tinham uma demanda muito maior do que a procura. 

Marketing 3.0

A evolução do marketing não parou com o foco nos consumidores, mas também não os deixou para trás. 

Desde o início do marketing 2.0 até hoje, o foco nos consumidores ainda está muito presente e atuante.

O marketing 3.0 trata da globalização. Ao invés de mercados locais, as indústrias passam a lidar com o mundo inteiro. 

A evolução do marketing 3.0 também é marcada pela criação e a popularização da internet e das redes sociais. Nessa época, as marcas começaram a se humanizar, e focar em mais do que só nos produtos certos de acordo com o que os consumidores queriam. 

Kotler determina o framework dos 3 Is para as marcas, que tinham um grande foco na sua identidade humana — seu branding

Os 3 Is são Identidade, Integridade e Imagem. Dentro desse framework, as principais necessidades das marcas dentro desses conceitos passam a ser o posicionamento, a diferenciação e a marca como uma entidade real, com valores próprios. 

Ilustração do framework dos 3Is.

Marketing 4.0

A evolução do marketing em conjunto com a internet trouxe o mundo em que vivemos hoje, com a predominância do marketing digital. 

Kotler entende o Marketing 4.0 como a era da integração: o marketing tradicional trabalhando junto com o marketing digital para colocar cada vez mais pessoas em contato com a sua marca. 

Conceitos como a omnicanalidade e experiência do usuário (especialmente para produtos não tangíveis, como plataformas SaaS) marcaram e vêm marcando o marketing 4.0, que mistura um pouco de todas as eras até aqui. 

Mas e o futuro? Como será o Marketing 5.0? Ele já começou? 

Marketing 5.0

Em 2021, Kotler inaugurou o conceito de Marketing 5.0 no seu livro de mesmo nome, em co-autoria com Hermawan Kartajaya e Iwan Setiawan.

O termo 5.0 foi inspirado na Sociedade 5.0, apresentado pelo governo japonês neste manifesto. 

A ideia do Marketing 5.0 é transcender os produtos e entender o marketing como algo fundamental para a vida das pessoas. 

Estamos vivendo em uma era de grandes transformações na sociedade. E todas essas transformações estão acontecendo com uma grande influência do marketing. 

Para deixar mais claro: as principais ferramentas que proporcionam a Sociedade 5.0 são produtos criados por empresas. Nesse contexto, os produtos não são mais oportunidades para vendas e pronto. Eles são parte do nosso entendimento social. 

Por exemplo: a Inteligência Artificial criada nos moldes do PNL – Processamento Natural de Linguagem. Ela é um produto, mas ao mesmo tempo, tem impactos no trabalho de outras pessoas e na produção e promoção de outros produtos. 

O grande desafio do Marketing 5.0 será — ou vem sendo — a integração desses produtos nas nossas vidas. E a evolução do marketing vai ficando cada vez mais acelerada conforme avançamos nesse objetivo. 

Um pouco mais sobre isso no próximo tópico: 

A evolução do marketing na era do conteúdo

Millenium Falcon e C3PO ao lado de uma janela de um chatbot.

O marketing de conteúdo é um dos melhores exemplos da transição do Marketing 4.0 para o Marketing 5.0. 

O conteúdo é a forma prática pela qual o marketing consegue transformar a vida das pessoas e a sociedade como um todo. É a forma como ele vem fazendo isso. 

Um exemplo rápido antes de entrarmos em detalhes: esse texto que você está lendo. Ele é parte de um esforço publicitário. Ele foi criado com objetivos de marketing em mente. 

Mas ao mesmo tempo, ele é construído de uma forma interessante, com a intenção de compartilhar conhecimento prático que você pode aplicar na sua vida. 

Aqui estou falando sobre a evolução do marketing e te oferecendo dezenas de pontos nos quais você pode aprofundar sua pesquisa e ficar mais imerso no tema. 

As estratégias seriam muito diferentes em 1967, por exemplo, no ápice do Marketing 2.0. O objetivo desse texto não é só gerar leads que vão gerar vendas. É mudar sua concepção de mundo. Te abrir novas oportunidades. 

E essa mudança de pensamento aconteceu graças ao advento do Marketing Inbound: 

O Inbound Marketing

O nascimento do Inbound aconteceu no início da segunda década dos anos 2000. O termo foi criado por Dharmesh Shah, um dos fundadores da HubSpot, empresa que popularizou o termo. 

A principal filosofia do Inbound Marketing é a utilização de táticas de marketing não interruptivas — de onde o Marketing de Conteúdo tira sua principal inspiração. 

Até no auge do Marketing 2.0 o conteúdo tinha seu lugar na redação de anúncios. O próprio David Ogilvy dizia que os anúncios precisavam se parecer mais com os artigos das publicações onde eles estavam sendo veiculados. 

O Inbound busca expandir essa ideia. Ao invés de exibir anúncios onde os consumidores estão, ele cria uma infraestrutura de marketing para que os consumidores procurem a marca. 

Uma das principais formas que essa infraestrutura toma é através do SEO em conjunto com o Marketing de Conteúdo. Mais sobre isso logo abaixo 👇

O marketing de conteúdo e o SEO

A marca da evolução do marketing no momento em que vivemos hoje é a união do Marketing de Conteúdo com as técnicas de otimização para motores de busca — o SEO. 

O Marketing de Conteúdo surgiu no Marketing 3.0, com os conceitos de branding se tornando cada vez mais fortes e pela necessidade de humanizar as marcas. 

Despertar mais do que o desejo de comprar, mas o interesse pelas marcas, exige conteúdo constante. 

O SEO é parte da construção da infraestrutura que mencionei logo ali em cima. Pessoas usam o Google para tirar suas dúvidas. O marketing assume a responsabilidade de entregar as respostas para as suas dúvidas. 

Temos dois textos fundamentais para entender o funcionamento do marketing de conteúdo e o SEO: 

➡️Marketing de Conteúdo em 2023;

➡️14 Ferramentas de SEO

As redes sociais como ferramenta de marketing

Do Marketing 3.0 para frente, o foco nas relações entre os consumidores e as marcas vai ficando cada vez mais forte. 

As redes sociais são parte fundamental disso. As marcas querem estar inseridas no ambiente compartilhado de ideias da mentalidade moderna. 

Conforme o marketing vai avançando, mais e mais marcas vão se colocando nas redes sociais e criando novos posicionamentos. 

Hoje, a marca que se destaca nas redes sociais é aquela que expõe seus valores, aquela que se porta do mesmo jeito que os consumidores interagem com as redes. 

Mas é bom perceber que as redes sociais são uma ferramenta. A ideologia que elas ajudaram a construir vai continuar existindo por muitos e muitos anos. 

Para o futuro, as marcas vão continuar criando essa proximidade com os consumidores. Elas vão fazer parte das suas comunidades. Elas vão criar essas comunidades. 

🔎 Leia também: Marketing Viral - Exemplos e Técnicas para Viralizar Mais

Engineering-as-marketing

Hoje em dia, mais e mais marcas estão investindo na criação de produtos para facilitar a vida dos seus consumidores em potencial. 

Isso se chama engineering-as-marketing. Nós inclusive aplicamos esse conceito. Nossa calculadora de leads, por exemplo, é um recurso grátis que ajuda no dia a dia de quem trabalha com marketing. 

O conceito é exatamente esse: a criação de ferramentas que impactam no trabalho ou na vida dos clientes em potencial. 

O marketing contemporâneo e o marketing do futuro giram em torno de manter sua marca relevante na vida do seu público-alvo. O tempo da propaganda está passando. Hoje, nosso objetivo é te acompanhar ao longo da sua vida. 


O futuro do marketing nos espera! 

Mas para saber pra onde ir, precisamos saber onde estamos. Esse é um dos ensinamentos da era clássica do marketing 2.0 que nunca vai deixar de ser verdade. 

Mas por onde começar a pesquisar? Antigamente, você precisava contratar empresas especializadas para fazer esse trabalho. Fazer ligações, bater de porta em porta. 

Hoje, a história é diferente. Nós fazemos estudos próprios e os compartilhamos. É parte da nossa contribuição para a evolução do marketing — e para o marketing do futuro. 

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Categorias: Marketing digital

Fernanda Andreazzi

Estrategista de conteúdo na Leadster. Atua há 5 anos com Marketing Digital, Inbound Marketing, SEO - e tudo o que há de bom

1 comentário

Raimundo Lopes · 30 de dezembro de 2023 às 08:04

Um material muito bom e esclarecedor sobre a história e a evolução do marketing. Não é sempre que vemos algo tão bom como esse. Parabéns!

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